A meio da noite o chefe da milícia acorda-me aos berros dizendo "Toca a pegar nas armas! Vamos atacar o bairro de Najaf; os nossos inimigos sunitas têm que morrer pois estão a ajudar o nosso maior inimigo - os invasores americanos.".
Após mais um ataque, ao raiar da manhã, regressámos ao nosso esconderijo, embora tendo perdido 4 dos nossos, entre eles o Salem e o Mucharraf, meus amigos (com 11 e 12 anos). Com muito medo e muito cansado, empunhando a metralhadora que me confiaram, dirigi-me ao chefe num ataque de choro, suplicando-lhe que me deixa-se sair da milícia e a todos os meus amigos, crianças. Era tempo de deixar as armas, para tentar crescer e aprender fora deste mundo de ódio constante e sofrimento, onde a palavra de ordem era "matar"! Disse-lhe que seríamos muito mais úteis ao meu país se tentássemos instalar a Paz e a Amizade entre o nosso povo, sem distinção de grupos, credos ou correntes políticas, juntando Chiitas e Sunitas. O Iraque tem que regressar à Paz e voltar a ser um país onde dê gosto viver, com bem-estar e que faça parte de uma grande civilização, lembrando que já pertenceu a uma das maiores dos tempos passados – a Mesopotâmia.
Perante este meu pedido e com a atenção de todos os meninos, com grande espanto nosso, o chefe respondeu:
- É tempo de repensar o que temos feito do nosso povo e sobretudo de vocês, crianças. Chega de Guerra, temos que construir a Paz. A partir de hoje, vão para a Mesquita, onde irão aprender as leis do Alcorão, a ler e a escrever.
Assim foi, mas as más recordações ficam para sempre gravadas na memória… E todos nós, a maioria já sem pais, continuámos a crescer num cenário de guerra e sangue! Mas penso e aguardo pelo dia em que tudo mudará…
Carolina Aguiar, 9ºC
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